quarta-feira, 1 de junho de 2011

DESCRIMINALIZAÇÃO: SIM OU NÃO

FABRÍCIO SILVA

“Pai, perdão. Não sabemos o que fazemos.”

Uma pessoa alcoolizada não vai presa. E se dependente pode participar de grupos de A.A Alcoólicos Anônimos. Porém, essa mesma pessoa ao dirigir embriagada, vindo a sofrer um acidente atingindo próximos a ela, pode ser julgada e pagar pelo que fez.
Um fumante, viciado em tabaco, não vai preso. Cabe a ele arcar com as conseqüências que aquilo lhe trás. Assim como cabe a ele o bom senso para não fazer de pessoas não fumantes, que passivamente respirem a mesma fumaça. Daí a existência hoje de bares e restaurantes com locais para fumantes e não fumantes.
Demais drogas são consideradas ilegais e proibidas. São peça fundamental do tráfico de drogas. E por serem ilegais, o consumo das mesmas é tratado como caso de polícia e não de saúde pública. E é o debate que o documentário que estréia na sexta-feira nos cinemas Quebrando o Tabu visa trazer para a sociedade.
Dentre as várias questões levantadas, vem a do sistema prisional brasileiro que está lotado de pessoas condenadas pelo uso de entorpecentes. O que pessoas de renome como Dráuzio Varela defendem é que pelo fato de o uso de drogas serem um problema de saúde pública, as pessoas não devem ir presas pelo uso. Daí o termo descriminalização e não legalização. Descriminar não é legalizar. O documentário mostra a experiência de vários países e tem a participação de importantes ex-chefes de Estado. No Brasil a bandeira é levantada pelo ex-presidente FHC, ele é o âncora do documentário que possuí por trás de sua produção nomes como o de Luciano Huck.
Fernando Henrique defende, por exemplo, a existência de locais onde as pessoas possam fazer uso das drogas e até onde entendi, de forma controlada. A maconha vira a bola da vez no assunto. Visto que ela é comprovadamente menos letal do que duas drogas legais, o tabaco e o álcool. Ainda fica a dúvida, aliás, dúvidas. E as demais drogas? A idéia é descriminalizar tudo como em Portugal, por exemplo? O tráfico de drogas vai mesmo sofrer o seu golpe de misericórdia? Eu acredito que não. Mas tudo bem são questões a se discutir. Outra questão martelando na minha cabeça é a seguinte...
Descriminaliza-se o uso de drogas para que ao invés das pessoas irem presas, acabem indo para clinicas de reabilitação ou para hospitais. Isso diminui o contingente populacional carcerário, mas aumenta a demanda de doentes em hospitais e clínicas públicas. Estamos preparados para atender essas pessoas? Acredito que não, uma vez que já não damos conta nem da demanda atual. Se o setor público de saúde do nosso país é a bagunça que é, como querer que o mesmo cuide de dependentes de outras drogas além das já legalizadas?
Não sabemos até que ponto a descriminalização pode ser benéfica ou não. Que a nossa sociedade trata do assunto com contradição é fato. Afinal, já que tabaco e álcool são legais, a maconha ser descriminalizada não faria muita diferença. Mas teríamos que descriminalizar o resto delas e a dúvida é se o uso diminuirá ou não.
É importante que se diga mais uma coisa. Antes de tratarmos do assunto, precisamos ver até que ponto estamos sendo hipócritas. Já que é sabido que o número de pessoas em todos os setores da sociedade que fazem uso de maconha, por exemplo, não é pequeno. E é sempre bom lembrar, o viciado rico passa por tratamento nas melhores clinicas do Brasil e do mundo. O viciado pobre vai preso. Descriminalizando, o viciado rico mantém essa lógica o pobre vai ser tratado pelo setor público de saúde que não está preparado para atendê-lo e muito menos estará interessado em sua recuperação. Então, o que a gente faz? Descriminaliza ou não?

2 comentários:

  1. Acredito que o Brasil é um país que ainda não está preparado pra esse tipo de coisa. Primeiro, por causa das questões levantadas pelo Fabrício. Segundo, por que aqui há um falso moralismo que não permite que as coisas sejam vistas de várias maneiras. Os pontos de vista são limitados. Acredita-se que todo maconheiro é vagabundo e não há quem mude isso da cabeça dos hipócritas. Terceiro, porque esse tipo de coisa, descriminalização ou legalização, exige um grau de orientação e educação muito grande. Esse trabalho de base não é bem feito com as drogas legalizadas, imagine se acrescentarmos mais itens para serem trabalhados. Acredito que se não pararmos pra começar um trabalho efetivo e que possa "render frutos" a longo prazo, essas ideias que temos hoje não surtirão efeito nenhum.
    Paulo Alexandre Costa

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  2. Eu acho que a maconha só não é descriminalizada/legalizada porque os grandes empresários, políticos e banqueiros não tem interesse de investir numa fábrica de maconha. Eles iriam assumir esse negócio pra quê? Pra pagar um absurdo de impostos e não poder anunciar o produto em todos os canais? Melhor deixar na mão dos traficantes mesmo, que aí dá pra fazer propaganda política com a polícia pacificadora e apreender alguns bens pro governo.

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